quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Tapa




Sentia-se fatigado com tudo aquilo. Trancou a porta e abriu o dicionário: Tapa, s. f. pano com que se vedam os olhos de burro pouco manso; s. m. bofetada, tapona. ta-pa. Parou. Pensou. Não conseguiu encontrar nenhum sentido. Parou novamente, decidiu apagar a luz. Tudo ficou claro.
Já não era a primeira vez que olhava para dentro. Momentos assim nunca foram fáceis, às vezes, só procurava entendimento para as coisas que o deixava confuso, junto de seu travesseiro, de seus discos, livros... Mas doía. Outras vezes, apenas fugia de qualquer tipo de pensamento. Dormia, se iludia.
Mas naquele dia foi diferente, ele sentia como queimava aquele tapa. A dor latejava em sua consciência. Tudo o que foi dito, tudo o que se abriu em uma mesa como uma espécie de segredo que sempre quisera guardar só para si, exposto assim, para os sete ares, para o mundo inteiro saber. Aquilo que era só seu. Sofreu. Pegou seu casaco, bebeu seu ultimo gole e saiu...
Quando a escuridão lhe cobriu os ombros, parou por instantes. Curtos instantes que lhe trouxe a memória fatos e gestos... Flagrou tudo o que havia acontecido. Havia subestimado demais. Desacreditou na pureza das virgens. Riu asperamente de sua ingenuidade. Ele próprio tinha lhe vedado os olhos.
Acendeu um cigarro enquanto caminhava em direção a varanda. Ali, sozinho, com seus pensamentos, sua mente lhe roubara qualquer espécie de esperanças. Prometera aos deuses, os quais nunca acreditou, jamais se entregar a um novo amor.

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