domingo, 30 de novembro de 2008




Sentou na beirada da calçada, abaixou a cabeça e tudo girava. Tentou ler na parede o grafite onde havia a citação: “Não me acorde enquanto eu planejo sonhando’’. Ficou sem entender. Em noites como aquela, quando descia todos os tipos de bebidas sem ao menos saber o porquê, tudo parecia confuso. As pessoas sorriam demais, os casais se beijavam desesperadamente. Tudo girava. As estrelas também estavam em movimento compondo um carrossel de luzes brancas. Sorrisos, sorrisos... Eles nunca vão te amar como eu te amei, cantava.
Entrou cambaleando depois de tropeçar em um cachorro que lhe olhava e parecia pensar em quanto estúpido estava. Pegou mais uma dose de algo que rasgava sua garganta e avistou alguém que havia lhe chamado a atenção. Seu estômago parecia um caldeirão prestes a explodir. Aproximou-se dela e sorriu. “Estúpido, estúpido, estúpido!” Mas houve reciprocidade. Trocou meias palavras desnecessárias, acendeu um Marlboro, e em uma forte tragada, tentou impressioná-la soltando a fumaça com charme. Ela ria dele, sabia o que estava acontecendo. A certeza era que se tratava de um ego ferido. Não quis dar corda à carência e, em um gesto de solidariedade o beijou demoradamente.